Um assunto que ainda hoje levanta polêmica, mas que para quem necessita não tem o que se discutir, trata-se do uso do Canabidiol em tratamentos médicos que é por muitas vezes motivo de preconceito por algumas pessoas, muito talvez por falta de conhecimento sobre o assunto.
O Canabidiol é um composto químico encontrado na planta Cannabis sativa, conhecida popularmente como maconha, que, de acordo com estudos científicos, pode ser utilizado no tratamento de doenças e sintomas como a epilepsia, dores crônicas de origem oncológica ou neuropática, espasticidade causada pela esclerose múltipla, náuseas e vômitos causados pela quimioterapia, inapetência, entre outros.
Pacientes que fazem uso deste medicamento relatam a melhoria na qualidade de vida após o tratamento com o Canabidiol. Em Itapeva a esperança de muitas pessoas que passam por problemas de saúde e sofrem com dores diariamente é conseguir o tratamento com o Canabidiol, uma delas é a empresária Marcia Primo que falou sobre sua luta para conseguir o medicamento e amenizar assim as dores por conta dos problemas de saúde que enfrenta. “Eu tenho dores diárias devido a vários problemas de saúde, gasto muito com remédio e sofro muito com as dores, e o custo na farmácia ainda é inviável, em farmácias encontramos o medicamento custando cerca de R$ 3 mil com 25ml, o que é suficiente, pois usamos só duas gotinhas debaixo da língua, e conheço vários casos de pessoas que hoje levam uma vida normal, sem dor, por conta do medicamento. Mas temos Canabidiol em associações que vem 60ml e sai mais ou menos R$ 200 mais o frete”, conta.
Como por uma associação o preço do medicamento acaba sendo bem mais barato, Marcia diz que já começou o procedimento para se associar a uma entidade autorizada. “Eu estou na fase de cadastramento em uma associação, e demora um pouco, porque ai tem que passar pela Anvisa ( Agência Nacional de Vigilância Sanitária), para ela aprovar e dado o ok, eu tenho que me associar a entidade autorizada e ai tem a anualidade que custa em cerca de R$ 350 que posso pagar parcelado pelo cartão e já cadastrada, pagando a anualidade, sendo associada, ai sim passo para a parte comercial para comprar o remédio e como é de 60ml esse medicamento acaba durando cerca de três a quatro meses. Com isso a gente economiza muito com os remédios e isso já traz muita esperança, não só financeira, mas de não ter dor, pois um dia sem dor já será fantástico”, desabafa.
Essa esperança de Marcia e de outros pacientes acabou ficando mais perto da realidade com a autorização cedida pela Associação Brasileira de Apoio Cannabis Esperança (ABRACE), ao médico Dr. Leonardo Cesar Tassinari, para que possa receitar o Canabidiol aos pacientes que ele entenda ser necessário esse tipo de tratamento.
Dr. Leonardo Tassinari é médico especializado em Geriatria pelo HC-FMUSP e em Cuidados Paliativos pelo Hospital Sírio Libanês de São Paulo, responsável pelo centro de Referência do Idoso e Ambulatório de Geriatria da cidade de Itapeva. Em entrevista o médico falou sobre o tema. Confira:
IN- Primeiramente conte-nos um pouco sobre como é o processo para que o médico seja habilitado para sugerir o tratamento à base de Canabidiol.
Dr. Leonardo- Acredito que para sugerimos algum tratamento alternativo para os pacientes, como o caso do Canabidiol, é necessário termos conhecimento e algumas experiências favoráveis com o tratamento proposto. Na medicina atuo em duas áreas, Geriatria e Cuidados Paliativos, Canabidiol vem tendo importante benefícios no tratamento de alguns sintomas muito prevalentes nestas áreas, como dor, principalmente a dor oncológica, ansiedade, perda de apetite, depressão, insônia, alterações motoras e psicoses, comum nas doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e doença de Parkinson, assim como nos sintomas ocasionados pelas doenças auto imunes como Esclerose Múltipla.
Neste contexto entrei em contato com a Associação Brasileira de Apoio Cannabis Esperança (ABRACE) onde foi avaliado meu currículo e minha área de atuação sendo habilitado a prescrever o Canabidiol.
IN- O que é o Canabidiol?
Dr. Leonardo- Canabidiol é uma das 113 substâncias químicas canabinoides encontradas na Cannabis sativa, conhecida popularmente como maconha, que atua nas regiões do cérebro relacionada com as emoções e que não causa efeitos psicoativos ou dependência.
IN- Sabemos que ainda há muito preconceito em torno deste tratamento. Como o senhor poderia explicar a importância dele?
Dr. Leonardo- Sim, sem dúvida, não só por parte de uma parcela da população mas até mesmo por alguns profissionais de saúde, porém, acredito que só a informação, a maior divulgação e sobretudo novos estudos que confirmem a eficácia do tratamento podem amenizar este preconceito.
IN- Há quem é sugerido esse tipo de medicamento?
Dr. Leonardo– O Canabidiol pode ser indicado como uma alternativa de tratamento onde todas as outras medicações indicadas não trouxeram resultado esperado ou como coadjuvante para potencializar as medicações convencionais. Hoje sabemos, através de estudos científicos apoiados em evidencias que a principal indicação do uso de Canabidiol é no tratamento de epilepsia severa em crianças, porém a pratica clinica nos permite indicar o tratamento em outas doenças para aliviar seus sintomas mesmo que ainda não temos estudos mais específicos nestas patologias. Tenho como experiência o uso do Canabidiol no tratamento de alterações comportamentais, comuns no casos de demências, principalmente na doença de Alzheimer, como agitação, agressividade, delírios e insônia onde o benefício foi amplamente observado.
IN- Quais os benefícios do canabidiol?
Dr. Leonardo- Apesar de haver muitos trabalhos ainda em andamento para comprovação cientifica dos benefícios creio que já temos grande resultados positivos vistos na prática clínica que nos deixa mais seguros e confiantes para prescrevermos, principalmente nos sintomas de doenças graves como já havia comentado.
IN- Existe alguma restrição?
Dr. Leonardo- Como já havia comentado o Canabidiol pode potencializar os efeitos de algumas outras medicações que o paciente já vem usando, então é necessária uma avaliação minuciosa pelo médico para a prescrição do uso do Canabidiol.
IN- Para saber se a pessoa pode fazer parte deste tratamento como ela deve fazer?
Dr. Leonardo- É fundamental que o paciente passe por um a consulta médica onde será abordada a história da sua doença assim como seus sintomas mais prevalentes e os tratamentos já realizados e sabermos se ele se beneficiara do uso do Canabidiol.
IN- É um tratamento de alto custo?
Dr. Leonardo– Em dezembro de 2019 a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou a regulamentação do registro e da venda de medicamentos à base de Cannabis o que torna o tratamento mais acessível pois antes desta regulamentação todo produto era importado o que encarecia muito o tratamento, acredito que no primeiro semestre de 2020 já teremos estes medicamentos nas prateleiras das farmácias. Outra forma de adquirir estes medicamentos é através de organizações não governamentais que já produzem estes medicamentos por menores preços.
IN- Considerações finais.
Dr. Leonardo- Queria agradecer a oportunidade de poder falar de um tema ainda um pouco controverso, mas que vejo no futuro próximo que irá trazer grande benefício no tratamento de diversos sintomas provenientes de doenças graves. Queria lembrar também que apesar do surgimento de novos remédios e o avanço tecnológico da medicina nada é mais importante do que mantermos uma qualidade de vida adequada com hábitos alimentares saudáveis e a prática de atividade física e intelectuais. Muito Obrigado.
Em janeiro Anvisa aprovou proposta que simplifica importação de produtos à base de canabidiol
No dia 22 de janeiro a diretoria da Anvisa aprovou uma proposta para simplificar o procedimento para importação de produto à base de canabidiol para uso pessoal.
A decisão do órgão tem foco nos pacientes que importam os medicamentos já disponíveis no mercado internacional. Até o terceiro trimestre de 2019, foram 6.267 solicitações de importação, contra 3.613 em 2018, segundo a Anvisa.
Nova resolução
A nova resolução vai começar a valer a partir da publicação no Diário Oficial da União (DOU), o que ainda não tem data prevista para ocorrer. Uma minuta da nova resolução foi divulgada na reunião da Diretoria Colegiada da Anvisa.
Principais mudanças:
*Fim da exigência do paciente informar a quantidade do medicamento a ser importado. O monitoramento passa a ser feito na alfândega.
*Ampliação da validade de autorização de importação de um para dois anos.
Extinção da lista de produtos analisados pela Anvisa, para evitar “o favorecimento indevido de empresas e produtos”.
*A importação pode ser realizada pelo responsável legal do paciente ou por procurador legalmente constituído.
*Fim do envio postal de documentação; agora o pedido de autorização será feito exclusivamente pelo Portal Único do Cidadão.