Vereadores teriam questionado verbas para artistas que vieram por meio de lei específica para a cultura e acabaram, no entendimento da classe, fazendo pouco caso do setor.
Artistas de Itapeva se mostraram descontentes com a forma que os vereadores trataram a classe ao apresentar o relatório da CEI da Covid.
A CEI – Comissão Especial de Inquéritos apresentou seu relatório na quinta-feira (10) e, entre outros questionamentos, citou a questão de verbas destinadas a classe artística, citando ainda os nomes de alguns dos contemplados com recursos para apresentarem seu trabalho.
A questão é que o recurso usado para pagar esses artistas são oriundos da Lei Aldir Blanc, que prevê auxílio financeiro ao setor cultural e foi regulamentada pelo Governo Federal. A iniciativa busca apoiar profissionais da área que sofreram com impacto das medidas de distanciamento social por causa do Coronavírus.
E é nesse momento que começa a confusão, pois a verba destinada ao setor, nada tem a ver com a do enfrentamento a pandemia e diante desta situação, os artista consideraram uma ofensa ter seus nomes envolvidos na CEI, sem que ao menos fossem ouvidos pelos vereadores e sendo expostos como tendo participação em alguma eventual irregularidade.
Uma dessas artistas, a dançarina Graziela Cristina Calis falou sobre a questão, explicou que houve um processo transparente na divisão dos recursos e que todo o trâmite para o recebimento da verba foi bem rígido. “Algumas pessoas receberam por projetos, outras por espaços artísticos, todo mundo passou por um pente muito fino na Secretaria de Cultura, foram muitos documentos, foi tudo bem detalhado pela Secretaria, eu não tenho nada a reclamar, pelo contrário, eu tenho muitos elogios a fazer, como fui tratada, como fui assessorada por todos”, disse.
A artista contou que até então estava tranquila devido a isonomia do processo, porém, foi surpreendida com seu nome sendo envolvido em um caso político e que se sentiu ofendida com o fato. “Queria registrar meu sentimento de completa indignação com relação ao acontecido na sessão de Câmara de quinta-feira, a difamação injusta dos nomes e imagem dos artistas citados no relatório da CEI da Covid-19 elaborado pelo Legislativo de Itapeva e a exposição pública e danosa que sofremos são absolutamente vergonhosas e inaceitáveis. Eu pessoalmente só descobri que “havia um problema” envolvendo meu nome na sexta-feira, sem nunca ter sido ao menos chamada para um depoimento ou oferecida a oportunidade de apresentar quaisquer documentos para provar minha idoneidade como candidata e contemplada pela lei, o que eu teria feito prontamente, se necessário”, desabafou Graziela.
Graziela contou que não só ela, como outros artistas já estão verificando o que pode ser feito juridicamente por conta da exposição da classe e criticou a falta de conhecimento dos vereadores. “Essa comissão realizou uma investigação completamente desinformada sobre de onde é que veio esse dinheiro (da Lei Aldir Blanc), eles confundiram a verba específica para a Cultura com a que deveria ser aplicada, por exemplo, em leitos e medicamentos, e com isso fizeram um discurso basicamente fazendo chacota dos artistas, desvalorizando o nosso trabalho”, falou. Ela explicou ainda que muitos artistas devido a pandemia perderam sua renda. “Nós não estamos podendo trabalhar desde o início da pandemia, eu dou aula de dança e minhas aulas são presenciais, com isso não estou podendo exercer o meu trabalho, assim como praticamente todo mundo do grupo”, reforçou.
Após a apresentação do relatório os artistas que se sentiram ofendidos pelo tratamento dos membros da CEI já foram atrás de apoio jurídico e procuraram a imprensa para deixar uma fala de repúdio a posição de alguns vereadores. “Sinto que não podemos nos calar, mas ao contrário, temos que nos unir contra esse tipo de tratamento e ataque à nossa dignidade individual, assim como ao trabalho complexo e precioso que a Secretaria da Cultura de Itapeva executou dando à todos os artistas da cidade a oportunidade justa de sermos contemplados pelo auxílio tão necessário que nos foi oferecido através da Lei Aldir Blanc”, disse.
Graziela finalizou sua indignação com a seguinte frase: “Nós, os artistas, que estamos sem poder trabalhar desde o início da pandemia e que provavelmente seremos os últimos à voltar, somos os agentes responsáveis por trazer beleza ao planeta num momento de tanta dor, através dos nossos talentos, oferecendo nossas expressões da música, da dança, de todas as artes manuais, visuais e sensoriais, nós merecemos tanto respeito como qualquer outro trabalhador e cidadão brasileiro e do mundo”.