Até que ponto chega a sua dedicação a um sonho? No caso do músico Gabriel Miquelino chegou ao ponto de perder um ano letivo no Ensino Médio e acordar três horas antes de entrar em aula para se aprimorar no instrumento, que hoje lhe dá reconhecimento como um dos melhores em se tratando de Viola Caipira.
Natural da cidade de Itapeva, Gabriel Miquelino Lima tem 21 anos, o primeiro músico da família. Desde muito cedo despertou uma grande paixão pela música e buscou na viola caipira sua expressão. Aos 14 anos já tocava músicas dos grandes mestres violeiros como: Tião Carreiro, Goiano, Bambico, entre outros.
Em 2020 foi um dos vencedores do Concurso de Viola Caipira Revelando SP, ao lado de grandes nomes da Viola como: Neimar Dias, Ricardo Vignini, entre outros, ficando entre os 50 melhores violeiros do Estado de São Paulo. Participou da Revista de Sábado, pela Rede Globo, onde mostrou sua grande habilidade técnica na Viola Caipira, sendo considerado um dos jovens virtuoses deste instrumento na atualidade.
Em entrevista, Gabriel falou de sua paixão pela Viola Caipira, dos seus incentivadores como a mãe, a professora do ensino médio Lucilene e o professor de viola, Alex Oliveira, além de como chegou ao patamar que se encontra hoje. Confira:
IN- Como foi que a Viola Caipira entrou na sua vida?
Gabriel- Minha trajetória com a música acontece a partir dos 10 anos, comecei na igreja tocando percussão, o primeiro instrumento que tive contato foi um pandeiro e desde então surgiu a paixão pela música.
Eu tinha também um vizinho que tocava viola e sempre cantava uma música do Tião Carreiro e Pardinho e eu sempre pedia para ele tocar essa música que fala “…a coisa tá feia, a coisa tá preta, quem não for filho de Deus tá na unha do capeta”, que era a parte que eu lembrava, aí quando estava chegando a Festa de São Benedito e eu falei que queria tocar o hino do Padroeiro na viola caipira, nunca tive familiares músicos, mas comecei a estudar viola com esse amigo meu que me ensinou o começo da música do “Menino da Porteira” e com o apoio da minha mãe comecei a levar a sério, isso em 2013.
IN- E como foi essa paixão pela Viola Caipira?
Gabriel- Para ter ideia de como foi, na época estava no ensino médio e acabei até perdendo um ano por conta da viola, por ficar em casa tocando.
IN- E o aprimoramento no instrumento, como aconteceu?
Gabriel- Quando fui refazer esse ano perdido, uma das professoras era a Lucilene, mãe do Bruninho da Viola, e ao saber disso fiquei feliz por saber que estava tendo aula com a mãe de uma pessoa que era fã e assim perguntei para ela se tinha alguém para me aprofundar nas aulas de viola e ela me indicou o Alex Oliveira da Orquestra de Viola Caminho das Tropas de Itapeva, desde então comecei a fazer aula que me ensinou por um longo tempo.
IN- E ao se aprimorar, o que levou a procurar mais desafios?
Gabriel- Diante disso, fui atrás de uma viola mais profissional porque queria mais, queria tocar essas músicas mais difíceis, e ao ganhar uma nova de minha mãe eu me dediquei, a primeira música que aprendi já com a nova viola e que marcou muito minha vida foi a “Era uma boiada” de Marcos Violeiro e Cleiton Torres, aprendi sozinho, a partir daí fui lapidando e foi a inspiração para outras coisas que vieram.
Desde então comecei a estudar mais, a tocar muito pagode e fiz um curso do SENAR com o Alex, finalizei esse curso, peguei o diploma. Aí em 2018 eu prestei concurso no Conservatório de Tatuí onde fui aprovado no curso de MPB Viola Caipira onde estou no quarto ano. E lá no Conservatório eu tive a honra de conhecer o Zeca Colares que veio dar uma palestra na escola de música em Itapeva na época do curso do SENAR.
IN- Hoje já está colhendo os frutos dessa dedicação?
Gabriel- O Conservatório abriu muitas portas para mim, hoje estou dando aulas em Itapeva, dou oficina de viola na Casa da Cultura, recentemente fiz um teste em Bauru para dar aula pelo SENAR onde fui aprovado também, passei em um concurso do Estado que se chama “Revelando São Paulo”, que tem o intuito de mostrar os talentos do Estado, onde passei em terceiro lugar e ainda tive a alegria de passar como destaque do Estado de São Paulo de “Violeiro Incentivo”, o único em 2022.
IN- E sobre um projeto em andamento, o que pode nos dizer sobre ele?
Gabriel- Agora estou com um projeto gravando em estúdio, clássicos dos grandes mestres violeiros dentre eles, Bambico, Tião Carreiro e assim mostrar a versatilidade da viola. Aguardem!
Para finalizar, Gabriel deixou um recado para quem está iniciando e almeja conquistar seus sonhos:
“A dedicação nos leva a lugares inimagináveis que nem sonhamos estar um dia, como hoje eu que estou na final do Revelando SP, nunca me imaginei em um concurso tão grande dividindo o palco com violeiros renomados. Então a dedicação é o caminho, além de acreditar em si mesmo. Importante também é fazer não pensando em ter algo em troca, mas sim fazer por amor, porque quando fazemos com amor, as coisas acontecem na nossa vida. O retorno é consequência do seu esforço”, disse.