A Mãe é tida como o primeiro vínculo de apego, historicamente reconhecida como a dona do lar e àquela que ocupa o lugar de elo entre os filhos. O repentino desaparecimento da Mãe do cenário familiar causa estranheza e aniquilação.
É quando percebemos que não estamos mais diante da presença concreta da Mãe, que concebemos efetivamente este lugar de importância. A ausência da Mãe afeta a funcionalidade de toda a família e as reconfigurações se fazem necessárias; redistribuir as funções executadas com maestria pela Mãe e se relacionar de novas formas com o meio familiar, nos torna sobreviventes da própria história.
É um se ajustar no mundo. É um se ajustar num novo mundo nunca antes experimentado e inicialmente nada confortável, porque confortável mesmo é colo de Mãe, é escuta de Mãe, é lição de Mãe, confortável mesmo: “É A PRESENÇA DA MÃE”!
A perda de uma Mãe, traz consigo outras perdas: a estrutura familiar que nunca mais será a mesma, nem a rotina, nem as expectativas, nem os planos, nem a própria vida; que não mais retornará ao seu estágio anterior à perda.
Nossas dores são manifestadas diferentemente em cada período da vida. É na vida adulta, após 40 anos compartilhados com minha Mãe, que senti o impacto da ausência desta figura de apego e proteção cristalizada em mim desde a infância.
Perder a conexão com alguém tão importante, a qual representa o parâmetro de nós mesmos, é como se privar da capacidade de se reconhecer. É particular, confuso e solitário. É como se procurar no mundo! É buscar o significado da perda no resto das nossas experiências vitais e em nossas crenças.
A morte é uma das experiências humanas que mais nos coloca desafios adaptativos, mas foi na lembrança das condutas que a minha Mãe teve diante da vida, que fui me moldando para os dias que eu enfrentaria sem ela.
Nunca me esqueço de uma cena: Minha Mãe deitada no sofá com os braços a cobrir os olhos, chorando. E então eu pergunto: O que houve Mãe? E ela me responde: “Saudades da minha Mãe”! E de repente, me vejo, reproduzindo a mesma cena, deitada no sofá, só que com os olhos descobertos, validando para quem quisesse ver, a mesma saudade que minha Mãe sentiu quando perdeu a sua Mãe. E até que o vazio possa ser sentido como companhia, o luto é uma luta diária construída por choros altos, longos silêncios, nós na garganta, palpitações …
Quando uma filha adulta perde a Mãe, ela perde sua referência, perde o ponto de apoio, perde os conselhos, perde a companhia, perde a cúmplice, mas não perde o chão porque este, independente do que seja feito, foi feito para sustentar a vida que segue a trilha.
A perda de minha Mãe me mostra que não é sobre “Dar a Vida”, mas sim, sobre “Sustentar a Vida” mesmo depois da despedida – pelas lembranças, pela saudade e pelo significado enraizado da minha Mãe na nossa história familiar!
Coisa que gosto, é de ouvir falar: Você esta muito parecida com sua Mãe!
No dia das Mães a morte me faz recordar como alguém pode ser tão vivo em nossas vidas!
Apesar das fotos não mais atualizadas, ressignifico todos os dias o olhar para o mesmo retrato e para a história das gerações de Mães da minha família.
Homenagem a todas as Mães eternizadas!
Por Manuela Teixeira Bentivoglio, filha de Maria Eli Teixeira Bentivoglio, que é filha de Dirce Garcia Teixeira.
Baseado em artigo de autoria própria: “A RECONFIGURAÇÃO FAMILIAR A PARTIR DA PERDA
DA MÃE: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA.” Psicóloga, Especialista em Tanatologia.