Há 15 anos me tornei mãe. Jovem e ainda em processo de amadurecimento, me vi diante do imenso privilégio de experimentar o amor incondicional bem cedo, que veio acompanhado de um grande senso de responsabilidade. Não adianta negar e romantizar, ser mãe dá trabalho, é cansativo e exige doação integral, tal como um sacerdócio. Se você não está a fim de abrir mão do seu individualismo, nem comece, porque sinto lhe informar: a culpa, se algo sair do previsto, é sempre da mãe!
Minha jornada como mãe foi transformadora, mas principalmente solitária. Embora conte com rede de apoio, a responsabilidade de criar e ensinar a ser gente sempre foi minha. Enfrentei os desafios com determinação e fui tateando até acertar.
As percepções de família mudaram ao longo do tempo e cada vez mais casais se indagam sobre a qualidade do mundo “de hoje” para se colocar um filho. E não que a preocupação não seja real, porque é. Mas para mim, essa preocupação é ainda mais ampla e global. Eu desejo não apenas um mundo bom para minha filha, mas uma filha, um ser humano, uma cidadã que contribua positivamente e seja boa – e útil – para o mundo. E, no entanto, essa tarefa não é fácil! O compromisso de educar e moldar uma personalidade, além de garantir saúde, educação, moradia, alimentação, lazer, e afins, permanece lá, dia após dia, no mesmo bat local e no mesmo bat horário. Aliás, a minha “tween” da Geração Z (nascidos a partir do ano 2.000) vai me achar “cringe” por ter usado essa expressão aqui.
E começa na comunicação o sucesso da missão. Nós, os Millennials (pessoas entre 35 e 44 anos), somos a última geração que experenciou a vida sem o advento da internet, vimos nascer a globalização e o mundo ficar mais veloz, em especial, o acesso a informação. Nossos filhos são os nativos digitais, e, para eles, como bem disse o filósogo Zigmunt Bauman, tudo é líquido e as relações não seriam diferentes. Tem sempre um mundo a ser explorado na nuvem. O futuro promete tanta coisa excepcional, que é um desafio e tanto segurarmos os filhos com o foco no presente e ensiná-los a cumprir normas e hábitos que nasceram no século passado, mas que ainda se fazem necessários dentro de casa, na escola, e em sociedade. É o dissenso do século XXI.
Embora o amor seja o elo central das relações com nossos filhos, o ponto de convergência se dá no esforço de vencermos as barreiras impostas pelo tempo e no compromisso do diálogo, do entendimento e do cuidado. Passa muito rápido e vale muito a pena.
Por Patrícia Gam
Jornalista e mãe da Antonella