A Itapevense Isabela Saldanha está trabalhando em São Paulo há 15 meses, na linha de frente ao tratamento dos pacientes com Covid-19, atualmente, está no Albert Einstein. Para ela, exercer sua profissão de enfermeira na capital era um sonho antigo, o qual foi buscar, já que tem como lema de vida a frase “desistir nunca, persistir sempre”. “Eu nunca tive a oportunidade, mas com a pandemia surgiu uma vaga no Albert Einstein, que é um hospital renomado. Então eles me ofereceram ser transferida para o Hospital Municipal Dr. Moysés Deutsch (M’Boi Mirim), na zona Sul de São Paulo, na periferia, pela alta demanda de casos no SUS, o que foi uma experiência ímpar na minha vida”, contou.
A enfermeira lembra que toda essa mudança repentina não foi fácil. “Eu chorei muito, tive que literalmente me ressignificar, dar um novo significado à vida e dar importância ao que realmente tem valor”, disse.
Isabela descreve momentos angustiantes que passou com pacientes falecendo por falta de ar. “Eu vi muita gente em desespero, com muito medo, indo embora, se afogando totalmente em sua falta de ar.Vi pessoas clamando pela cura, que estavam há muito tempo sem falar com um filho ou ente querido, pedindo até um celular emprestado para falar com um familiar, dizendo que não queriam falecer sem se despedir. Só de lembrar me arrepia, porque desde o início da pandemia eu digo que a Covid é uma doença que surgiu para curar muitas almas, não é fácil o paciente entrar pro hospital e deixar tudo para trás, já que não pode manter contato com mais ninguém”, explicou.
Diante de tantos enfrentamentos, Isabela conta que precisava se manter firme, pois mesmo quando um paciente ia embora, outro já estava aguardando por cuidados. “Eu enquanto enfermeira não posso me apegar, porque senão eu sofro muito. Nós que trabalhamos na linha de frente precisamos nos cuidar também, não só fisicamente, mas psico e mental. Mesmo assim eu chorei muito, por ver pessoas egoístas que só pensam em si, levando a doença como uma brincadeira. No começo o vírus era desconhecido, ninguém sabia muita coisa, então eu percebi que não adiantava debater e comecei a me preocupar com o que estava ao meu alcance. A partir desta decisão a minha saúde mental melhorou drasticamente, eu deixei de tentar mudar as pessoas e foquei mais em mim”, reforçou.
O primeiro transplante pós-Covid
A enfermeira itapevense acompanhou a recuperação e a alta hospitalar de um empresário alagoano de 61 anos, que passou por uma cirurgia de transplante de pulmão pós-Covid. “Eu falo que o senhor José Hipólito foi um presente enviado por Deus, porque eu fiquei dois dias no setor que ele estava internado e eu tive o prazer, a alegria imensurável de estar ali justamente no dia da sua alta, de imprimir a papelada e levar para a família assinar a sua alta. Pude ver ele saindo, médicos chorando de emoção, a equipe multiprofissional muito comovida. É por isso que eu digo que ele foi um presente de Deus para mim, porque eu não estou daquele setor, mas eu estava lá para cobrir uma folga e pude participar deste momento ímpar”, lembrou.
Isabela ressalta que, independente do tempo em que trabalha em determinado setor, gosta de conhecer os pacientes. “Eu li todo o histórico do senhor Hipólito, toda a sua história médica e fiquei boquiaberta em ver tudo o que ele estava vivendo. Foram 257 dias de muita luta e ele saiu vitorioso. Ele segue em reabilitação fisioterapêutica e hemodiálise porque a Covid acabou afetando o seu rim, então ele vai ficar mais dois meses em São Paulo antes de voltar para Alagoas”, disse.
Falando claramente, o motivo de seu transplante foi porque a Covid ‘estragou’ o pulmão do paciente, para a Medicina, ele teve uma fibrose pulmonar irreversível, então o transplante era sua única opção. “Graças a Deus, o Einstein conseguiu este feito e o senhor Hipólito ganhou um novo pulmão. Ele ficou 88 dias intubado, com ventilação mecânica, ficou um tempo na ECMO, que é a circulação extracorpórea (igual do ator Paulo Gustavo) e aí conseguiu o novo pulmão para seguir sua vida”, comemorou.
Vale ressaltar que apesar 50 cirurgias semelhantes foram feitas no mundo todo desde o início da pandemia e no Brasil, outro paciente que passou por este procedimento não resistiu. Então, o senhor Hipólito é o primeiro brasileiro a viver transplantado pós-Covid.
“Dar a alta para pacientes com Covid é emocionante, porém, com o senhor Hipólito foi algo único, uma sensação muito diferente, ainda mais por não ser daquele setor, mas por estar ali naquele momento e ele sob meus cuidados. É histórico, emocionante e eu não tenho palavras suficientes para expressar”, finalizou a enfermeira.