O abril azul foi estabelecido pela Organização das Nações Unidas, ONU, como uma forma de conscientizar as pessoas sobre o autismo, assim como dar visibilidade ao Transtorno do Espectro Autista (TEA). Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS, uma em cada 160 crianças no mundo tem TEA. Alguns sinais podem ser vistos logo no início da vida da criança. Uns descobrem cedo, outros nem tanto. Uns buscam profissionais, outros tem receio. Talvez por medo do diagnóstico, por não saber como lidar com a situação.
O Jornal Ita News entrevistou dois especialistas sobre o Autismo para que você que tem dúvidas, possa se orientar, pelo menos um pouco, sobre o tema. De um lado, Ronaldo Trigo, pai da Lavínia de 8 anos, diagnosticada com Autismo nos primeiros anos de vida. Ele é suplente e colaborador do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Itapeva. Do outro lado, a psicóloga e neuropsicóloga, especialista em ABA para o autismo Bruna Cravo Miori. Confira:
IN – Quais foram os primeiros sinais da sua filha que te alertaram a buscar um profissional?
Ronaldo – A Lavínia apresentou sinais dentro dos padrões até próximo de 1 ano. Contato visual, fala, interação social, mas por volta de 1 ano e 2 meses teve um bloqueio. Um susto, pois do ano deixou de fazer contato visual, falar, já queria ficar tempo sozinha e não dava função para as coisas, como virar um carrinho e brincar com as rodas, ao invés de colocar a boneca e empurrar por exemplo.
IN – Como foi o processo até o diagnóstico de autismo?
Ronaldo – Inicialmente, a mãe buscou uma Terapeuta Ocupacional, pois eu não aceitava essa condição na minha filha. Após, foram orientados a passar na fonoaudióloga, e então, com a Neuropediatra (Dra. Karen), que com os relatórios dos demais profissionais, acabou fechando o diagnóstico. A Lavínia passou pelo CEAPEM que auxiliou muito nesse processo, pelas mãos da Márcia Painado.
IN – Como foi para você como pai receber o diagnóstico? Como se preparou para a nova rotina?
Ronaldo – Confesso que não aceitava, achava que a mãe estava botando defeito nela, que a mãe também estava ficando doida, e o universo estava conspirando a favor dessa maluquice. Mais tarde fui entender que era o processo que chamado de “Luto”. Porém, a Lavínia passou por duas cirurgias no quadril e acabamos focando nessa recuperação. Após a alta médica dessa questão, voltamos na Neuropediatra de outra cidade, e acabamos voltando para a Dra. Karen que confirmou o diagnóstico. Nesse dia, me lembro de entrar no carro e falar para a mãe dela: Agora eu vou contar pra todo mundo que minha filha tem autismo. Como quero que aceitem ela se eu mesmo não aceito. Nessa fase, fomos nos adaptando, estudando, aprendendo e se envolvendo nesse mundo novo para todos nós.
IN – Nós só conhecemos algo realmente, quando temos contato, certo? Você tinha outra visão sobre o autismo antes de ser pai de uma filha autista?
Ronaldo – Sim, concordo que a visão de fora é totalmente mudada, ou melhor, só passamos realmente a enxergar essa questão na sociedade quando temos algo próximo, ou no caso de profissionais da área. Para ser sincero, tinha visto sobre o Autismo em um filme chamado “Uma Lição de Amor”, mas era algo raso, e só me aprofundei quando passei a ser pai de autista.
IN – Qual mensagem deixa aos pais que têm dúvidas sobre o assunto ou que até mesmo não buscam um profissional com receio de receber o diagnóstico?
Ronaldo – Falamos que diagnóstico não é o fim, e sim o começo, o norte, a direção. Depois do diagnóstico começamos a entender algumas coisas que então, fazem sentido pois agora tem origem, tem direção e nada melhor que bons profissionais para nos direcionarem. Sobre ter medo de procurar o profissional eu diria que: A criança só tem a ganhar, a evoluir e se desenvolver. E digamos que hipoteticamente o diagnóstico esteja equivocado, a criança foi bem amparada, fez todas as terapias, teve apoio, e provável que até aí, se desenvolveu e muito. Cada caso é um caso, mas tem suas peculiaridades.
IN – Deixe suas considerações finais.
Ronaldo – Gente, por experiência posso afirmar que ter alguém com deficiência nesse mundo de tanta maldade e preconceito é um quanto assustador. Parece que o mundo não está pronto para isso, parece que tudo coopera a desfavor dessa aceitação. Mas como disse antes: Como quero que aceitem minha filha se eu não aceito? Por isso inclua, envolva, leve nos parques, ambientes abertos, por mais difícil que seja, pois incluir é o mais importante e o objetivo principal das nossas lutas. Prometo que não é fácil, aliás, muito difícil, mas com muito empenho e compreensão se chega muito longe. Mas para mim, amor se resume em cuidado. Então com muito amor tudo vai melhorando.
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De acordo com a psicóloga e neuropsicóloga, especialista em ABA para o autismo Bruna Cravo Miori, alguns sinais de alerta podem ser vistos desde muito cedo. Confira:
Por exemplo, é esperado que até os 2 meses de vida o bebê já consiga corresponder a olhares dos outros, com contato visual, e virar a cabeça em direção a sons ou barulhos. Aos 4 meses deve sorrir e responder a afetos. Aos 6 meses já é possível observar bastante interações com os adultos e o balbucio de uma variedade de sons. Os primeiros passinhos devem surgir por volta de 1 ano de idade. E até 1 ano e meio é esperado que a criança consiga falar várias palavras.
Estes são alguns pontos do desenvolvimento que devemos nos atentar. Nem todo atraso é autismo, mas todo atraso precisa ser visto e tratado devidamente, pois quando uma habilidade não é desenvolvida no tempo esperado, pode levar a atrasos em outras habilidades!
Meu filho já cresceu e não me lembro dessas informações. O que observar?
Claro que depende muito da idade, mas na pré–escola deve ser observada a interação com outras crianças, se brinca da forma esperada. Não é só estar junto, é participar da brincadeira com intenção de interação. No ensino fundamental deve ser observado o nível de atenção e a interação adequada. Conforme cresce, deve ser observado se há tendência ao isolamento social.
Outras características que podem aparecer em qualquer fase da vida são: a atenção a detalhes das coisas e não vê o todo, hiperfoco em um só assunto, seletividade alimentar, questões sensoriais, dificuldade em mudar de ideia, pensamentos rígidos, dificuldades na comunicação social, estereotipias (balançar as mãos, balançar o corpo, repetição de palavras), entre outros.
Mas então como saber quando é autismo?
É preciso procurar um profissional especializado, um psicólogo ou neuropsicólogo, um fonoaudiólogo principalmente quando há atraso na fala, entre outros. O próprio médico pediatra que acompanha a criança, muitas vezes, faz o encaminhamento, portanto leve ao médico cada preocupação, para que ele saiba desses atrasos, que podem não ser observados só na consulta médica.
Como fecha o diagnóstico?
Para fins de diagnóstico (necessário para garantia dos direitos da pessoa autista), é importante buscar médico neurologista ou psiquiatra, com conhecimento em autismo, e levar os relatórios dos terapeutas que já atendem sua criança.
Está na dúvida ainda? Existe um e-book gratuito, publicado pela Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil, onde é abordado o que é esperado do desenvolvimento em cada idade, e com dicas de como estimular a criança em casa!
Você pode baixar o e-book no link:
Buscar ajuda profissional é o melhor caminho para avaliar e atuar no desenvolvimento global da criança!