O policial civil de Itapeva (SP) que morreu depois de ser atropelado por um carro no fim de semana tinha viajado com o irmão para São Paulo para buscar a caminhonete que os dois tinham restaurado juntos.
O acidente aconteceu no sábado (26) no quilômetro 132 da Rodovia Raposo Tavares (SP-270), em Capela do Alto. Segundo a Polícia Civil, Carlos Adriano de Oliveira Lino, de 49 anos, foi atingido depois de descer da caminhonete para verificar uma pane no motor do veículo.
O irmão da vítima, o empresário Carlos Andrei de Oliveira Lino, contou ao G1 que ele e o filho de 17 anos estavam com Adriano no momento do acidente.
“A gente tinha um projeto que criamos juntos, de restaurar uma caminhonete antiga. Ele comprou de um amigo dele e nós começamos a restauração há uns três anos. Aí quando ela ficou mais avançada, nós mandamos para São Paulo para finalizar, aí ficou pronta e a gente foi buscar”, conta Andrei.
De acordo com o relato do irmão, os três foram de ônibus para São Paulo e passaram dois dias na cidade. Eles tiraram fotos, passearam pela cidade e até conheceram o estádio do Palmeiras, apesar de nenhum deles torcer para o time.
“Nós tiramos fotos com a bandeira, mesmo eu sendo são-paulino e ele corintiano. E ele mandou essa foto para as pessoas, você vê que ele não tinha maldade. Essa viagem era uma alegria só, mas foi só mais um dos nossos momentos felizes, porque tivemos muitos”, afirma o irmão.
Acidente
No sábado (26) após o almoço, a caminhonete que os irmãos restauraram juntos por anos ficou pronta e os três entraram no veículo para voltar à Itapeva. Depois de alguns quilômetros, no entanto, Andrei lembra que a caminhonete apresentou uma pane elétrica.
“Não sei exatamente o que aconteceu, mas o carro apagou em Sorocaba. Tentamos alguns socorros, eletricistas, mas como já estava no fim da tarde, ninguém estava disponível. E ele era muito ‘fuçado’, ele mesmo começou a mexer nos fios e o carro funcionou de novo.”
O grupo voltou a dirigir, mas a caminhonete apresentou problemas novamente e Andrei parou no acostamento da rodovia, próximo ao trevo de Capela do Alto. Segundo o empresário, o irmão ainda chegou a dizer que o veículo estava muito próximo do guard rail, mas Andrei não quis colocar a caminhonete mais perto da pista porque era perigoso.
“A gente desceu para ver o que tinha acontecido, olhamos a caixa de fusíveis e meu filho clareou com o celular para a gente. Aí ele falou para eu dar partida e eu entrei no carro. No que eu fechei a porta, senti uma colisão, não deu nem tempo de dar partida”, lembra Andrei.
De acordo com o boletim de ocorrência, um carro que seguia no mesmo sentido da rodovia bateu na lateral da caminhonete estacionada e atingiu o policial. A polícia informou que a motorista do veículo foi embora sem prestar socorro e está sendo investigada em liberdade pelo crime.
“Eu desci desesperado porque vi que tinha acontecido o choque, mas não deu para ver o que tinha acontecido. Eu encontrei meu filho agachado no chão, levantei ele, mas ele estava bem, só assustado, aí procurei o meu irmão e não achava. Ele estava bem para cima, uns 15 metros mais ou menos.”
O empresário contou que encontrou o policial já desacordado e o filho dele acionou o Samu. Carlos Adriano foi socorrido para um hospital de Itapetininga, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.
“Eu tentei fazer alguma coisa, mexi com ele, virei de lado, a gente fica em desespero. Por incrível que pareça, meu filho está melhor que eu, foi ele que conseguiu ligar para o Samu, que tentou me acalmar na hora porque eu saía no meio da pista para parar os carros, pedir ajuda, desesperado, e ele foi a parte mais consciente”, continua o irmão.
Luto
Carlos Adriano Oliveira Lino foi enterrado no domingo (27) no Cemitério Ecumênico de Itapeva. Viaturas da Polícia Civil, Polícia Militar e Guarda Municipal fizeram uma carreata para acompanhar a chegada do corpo ao sepultamento.
Segundo o irmão, o policial era investigador chefe da delegacia seccional de Itapeva e era muito querido pelos colegas de trabalho.
“No começo da profissão ele foi carcereiro e era querido até pelos presos. Ex-detentos estiveram no velório porque ele fazia o trabalho dele, mas nunca agrediu ninguém. Todos respeitavam ele, e ele tinha carinho inclusive pelos presos.”
O policial deixou a esposa e três filhos, sendo um jovem de 18 anos, e duas meninas, de 11 e 4 anos. Apenas 10 meses mais novo que o irmão, Andrei admitiu que os dias estão sendo difíceis sem o companheiro que ele teve a vida toda.
(Reproduzido do site G1 – Por Júlia Nunes, G1 Itapetininga e Região)